Conversa
Branca!
Paulo
Lucio – Carteirinho
Membro
do Movimento Vermelho de Cataguases
O programa de humor do momento
é o seriado: Pé na Cova. Do dramaturgo Miguel Falabella. O programa é parecido
com o Sai de Baixo, outro sucesso de
Falabella, sendo a diferença o cenário.
Em Sai de Baixo as cenas passavam na classe A, num prédio da Zona Sul, já em Pé na Cova na Classe C, na FUI -Funerária Unidos de Irajá - no subúrbio.
O programa tem como ator
principal o patriarca Ruço (próprio Miguel Falabella), e trata
questões polêmicas: morte, política, preconceito,
subemprego, homossexualidade.... com muita
irreverência. Com destaque para os trajes, gírias e o comportamento social.
Citei o programa para falar de
um tema bastante polêmico, o preconceito racial, a primeira cena do programa.
Falabella tratou desse tema de forma fantástica, mostrando um comercial de margarina onde mostra uma família branca na mesa comendo pão com
margarina. A princípio uma cena normal. Mas na verdade uma brilhante sátira ao preconceito invisível. Para reforçar, a personagem negra do programa assistindo ao comercial levanta uma questão: ” Por que o
comercial mostra uma família branca e rica se quem mais consome margarina é a
população negra e pobre?”.
Se fizemos uma leitura melhor,
iremos perceber que é uma questão
cultural, onde a grande maioria dos comerciais são todos idênticos, com “garotos e garotas propagandas” de cor branca.
A mídia criou a raça ariana e exibe 24 horas.
Dificilmente vemos comerciais
onde uma pessoa negra comprando um
carro; fazendo compra no mercado; utilizando cartão de crédito; indo ao banco; usando
o celular; viajando de avião; curtindo
um cruzeiro marítimo; indo ao shopping; tomando cerveja; ... a grande maioria
são atores brancos. Padrão da TV. Como
se só os brancos consumissem.
Nas novelas e filmes seguem
essa cartilha. Prevalece a raça branca. Dificilmente encontramos os negros nos
principais papéis. A maioria interpretam papéis envolvendo escravos, empregados,
bandidos, pobres... . Alguns negros se destacam, mas são minoria. Prevalece a
raça branca.
De acordo com o Censo de 2010,
50,7% da população é negra ou mestiça. Enquanto 47,7% da população se definem como
brancos. Se os negros são maioria, por
que os comerciais, novelas e filmes só mostram brancos?
É o preconceito invisível que está cada vez mais visível!
Trago esse debate para a nossa
cidade, onde também temos essas práticas. Cito como exemplo programas de debates das
rádios, que apesar de não podemos ver, tem cor. E é branca. Conversa Branca!
Os convidados e participantes são
todos brancos. Afinal, só participam dos programas: médicos, doutores, advogados,
empresários, comerciantes, alto escalão do governo, promotores, juízes...
pessoas de destaque na sociedade. Branquinhos que brilha.
Só Cara Pálida!
Engraçado é quando o tema do
debate são as cotas. Uma mesa de branco tratando do assunto. E é claro, a
maioria são contra. Dizem que não existe
preconceito e que não precisa de cotas. Mas será que ainda não perceberam que só os
brancos que opinam? Isso não é preconceito?
Os que são contra as cotas, na verdade, querem manter seu domínio na
sociedade. Temem perder espaço. Não
aceitam negros e pobres disputando empregos;
as vagas de seus filhos nas escolas e
universidades; espaços na mídia;
aparecendo no comercial da TV dirigindo um carrão sem que seja o motorista
particular.
Mais engraçado ainda é quando o
locutor quer mostrar que não tem preconceito e cita que o rapaz da técnica é
negro. Lembro dos coronéis que diziam
que não tinham preconceitos e usavam como exemplo seus empregados, dizendo:
“Meu mordomo é negro; meu capataz é negro; minha cozinheira é negra;... . A madame da Zona Sul faz o mesmo, bate no
peito dizendo: “Minha emprega é negra, não tenho preconceito.” Aproveito para
citar a frase da campanha racial: “Onde você guarda o seu preconceito?”.
Voltando a primeira cena do
seriado Pé na Cova, a empregada que está
servindo a mesa é negra. Ela prepara a mesa
para os brancos se alimentarem, não aparece comendo o pão. O rapaz da técnica negro é a mesma coisa , prepara o programa
para os brancos falaram, não tem direito a falar. Como se não tivesse
opinião. Por que só os brancos
participam dos programas?
Se for mulher e negra sofre
duas vezes, enfrentando o preconceito racial e o machismo. As mulheres estão excluídas dos
debates. Depois não entendem por que não temos mulheres vereadoras, lideranças
femininas e fazem teses, dizendo que
mulher não vota em mulher. Jogando a responsabilidade para classe. Mas na
verdade é por que estão excluídas dos debates.. Raramente são convidadas, sendo
sempre as mesmas. Por que não convidam outras mulheres? Novos participantes?
Tem um ditado que diz: “Que não
é visto não é lembrado”. Devido os
negros e as mulheres serem excluídos da mídia, não são lembrados. O que explica
a carência de lideranças negras e de mulheres na nossa política.
A exclusão do negro explica por
que nossa mídia é chamada de Chapa Branca!
Talvez seja necessário criar um
programa de cotas para participação dos programas de debates das rádios locais.
Inserindo também as mulheres, os
gays, os deficientes.. . Os “excluídos”
da sociedade.
Precisamos mudar a cor da democracia, que é branca e encardida,
sem brilho. Nossa mídia está com o pé na
cova.
Nenhum comentário:
Postar um comentário