domingo, 28 de maio de 2023

Começou o período eleitoral

 

Narrei os bastidores da política durante toda a pré-campanha, falando sobre as movimentações políticas em Leopoldina. As trocas de partidos, formação de grupos, lançamento e desistência de candidaturas.

Pois bem, chegamos no período eleitoral e agora sabemos quem de fato é candidato. Temos em Leopoldina quatro candidatos., dois concorrendo ao cargo de deputado estadual:  Roberto Brito (REDE) e Pastor Heloyr (DC); e dois ao cargo de deputado federal: José Eduardo (União) e Rogério Suíno (PSC).

Eles disputarão as 77 vagas para deputado estadual e 53 vagas para deputado federal. Para isso vão em busca dos 41.122 votos que existem na cidade. Porém, nem todos eleitores votam, na eleição de 2018 por exemplo, dos 40.521 eleitores apenas 30.655 votaram, 9.866 não compareceram nas urnas, o que representa 25% dos eleitores.

Além de disputar entre si esses votos, os candidatos daqui disputarão com candidatos de fora. Vão concorrer contra 1.381 candidatos a deputado estadual e 1.071 candidatos a deputado federal, onde muitos desses terão votos em Leopoldina. Na última eleição mais de 300 candidatos tiveram voto no município.

Vale destacar que os candidatos daqui também irão atrás de votos em outras cidades, até porque, para serem eleitos precisarão de bastante votos. Precisando não só dos seus votos, mas também dos votos dos candidatos dos seus partidos. Vale destacar que nosso modelo de eleição é o proporcional, leva em conta os votos de todos os candidatos do partido. As vagas são divididas entre os partidos que conseguirem atingir o quociente eleitoral.  Dessa forma, não basta apenas contar com seus votos, terão que contar com votos de outros candidatos do seu partido.
 
Sabendo disso, cabe ao eleitor se informar sobre os candidatos, analisar os partidos que eles estão e ver quais os candidatos que estão compondo a chapa com eles, pois quando se vota num candidato seu voto vai para o partido, podendo ajudar a eleger não o candidato que você votou, mas outros que estão no partido.

Cabe aos candidatos convencerem os eleitores a votarem nele, para isso usarão suas táticas eleitorais, espero que não tenhamos compra de voto e fakenews. A disputa já começou e agora é aguardar o resultado final, onde espero que seja respeitado por aqueles que perderam.



Marcos Paixão sai de cena e Roberto Brito agradece

 

O cenário político de Leopoldina teve uma mudança importante nos últimos dias, que foi a desistência de Marcos Paixão em disputar a eleição de deputado estadual. Fato que foi comemorado pelo pré-candidato Roberto Brito, filho do ex-prefeito Zé Roberto, que vem consolidando para ser o único candidato da cidade.

Ainda tramita nos bastidores a pré-candidatura do Pastor Heloyr, que atua tanto na cidade de Recreio quanto Leopoldina. Confirmando sua candidatura, que segundo ele já foi aprovada pela convenção do seu partido (Democracia Cristã – DC), irá disputar com Roberto Brito os votos locais.

Roberto Brito, mais do que ninguém, sabe da importância de ter votos na cidade. Ele que na última eleição deixou de ser eleito por causa de um pouco mais de mil votos, sendo que havia naquela eleição outros três candidatos na cidade: Godelo, Jacques Vilela e Dr. Marco Antônio; que tiveram em torno de 5 mil votos em Leopoldina. Dessa forma, para ele quanto menos candidatos tiver melhor.

Nem sempre ter menos candidatos é tão bom assim. Vejo o caso da eleição para deputado federal, que por ter menos candidatos disputando a quantidade de votos necessários para conseguir uma vaga é muito alta. Por falar nessa eleição, em Leopoldina o cenário está parecido com a disputa para deputado estadual, com duas pré-candidaturas ainda ativas, que é a do José Eduardo Junqueira Ferraz, sobrinho do prefeito Pedro Augusto, e a do vereador Rogério Suíno.

Na disputa para deputado federal o discurso bairrista não funciona muito. Afinal, ambos sabem que mesmo se tivessem 100% dos votos de Leopoldina não seriam eleitos, já que a votação para deputado federal é alta.  Logo, vão precisar de muitos, mas muitos votos fora.

Até mesmo quem for candidato a deputado estadual, mesmo sabendo que uma boa votação na cidade ajudaria elegê-lo, é necessário ter votos fora. Logo, da mesma forma que os candidatos daqui vão buscar votos fora, os de fora vão buscar votos aqui. Até porque, quem for eleito vai representar todo o Estado e não apenas sua cidade ou região.

Essa crítica que se faz a candidatos de fora é totalmente sem sentido, afinal, Leopoldina não é uma ilha, nem mar tem por aqui. A cidade está ligada a outras, faz parte de um Estado e de um país.  Os eleitores e os candidatos devem ter consciência disso e muitos têm, o que explica muitos terem votos aqui, na última eleição mais de 300 candidatos tiveram votos aqui.

O eleitor não vota somente por amizade ou afinidade, mas leva em consideração um projeto, que não deve ser pessoal, mas sim coletivo. Dessa forma, cabe aos candidatos daqui apresentarem esse projeto, de modo a convencer os eleitores que esse projeto, do qual eles irão fazer parte, será bom para eles, para a cidade, para o Estado e para o país. Política é isso. Porém, como brilhantemente mostrou Luciano Baia Meneghite, o Luc, na sua última charge, os candidatos daqui estão em cima do muro. Limitando ao discurso bairrista, achando que apenas isso será suficiente.

De nada adianta o deputado trazer recursos para a cidade e em seguida votar contra o povo tirando deles os poucos recursos que têm, além de direitos. É o mesmo que dar com uma mão e tirar com as duas. Quem for candidato tem que ter consciência disso e quando for pedir voto não peça porque mora na cidade, mas sim por querer defender não só quem mora nela, mas defender todos aqueles que de alguma forma são prejudicados pela falta de política pública. 

Candidato que não entender isso terá poucos votos, mesmo sendo o único candidato da cidade e verá candidatos de fora tendo muito mais votos que ele. Isso ocorreu na última eleição. Bené Guedes foi o único candidato a deputado federal da cidade e mesmo assim ficou em quarto lugar por aqui, sendo que o primeiro e o segundo, que foram candidatos de fora, tiveram o dobro de votos que ele teve. Quem acha que basta ser da cidade e que com isso terá votos está muito enganado.

Vamos deixar esse debate mais para frente, afinal, ninguém ainda é candidato. Todos ainda são pré-candidatos, já que têm até o dia 5 de agostos para confirmarem suas candidaturas, que serão analisadas pela Justiça Eleitoral, onde só depois disso terão suas candidaturas oficializadas, lá por volta do dia 15 de agosto. Hoje o cenário é sem o Paixão, amanhã poderá ser outro.  Até lá, a gente vai analisando essas movimentações dos bastidores. Tendo alguma novidade farei um novo texto.



Federações partidárias criam um novo cenário político

 Mês passado tivemos um fato novo na política, que foi a definição das federações partidárias. Federação é a união entre partidos políticos, permitindo que eles possam coligar, tendo em vista que as coligações deixaram de existir na reforma política de 2017, no governo Temer.


A diferença entre as antigas coligações para a federação é que na federação os partidos que as compõe terão que ficar juntos por 4 anos. Antigamente, as coligações ocorriam somente para as eleições, passada as campanhas os partidos caminhavam por conta própria.

Três federações foram construídas: 1) PSOL + REDE; 2) PSDB + CIDADANIA; 3) PT + PCDOB + PV. Bom lembrar também que tivemos a união entre alguns partidos, é o caso do DEM + PSL, surgindo o União Brasil.

Mas o que isso muda? A principal mudança é a diminuição no número de candidatos. A quantidade de candidatos que cada chapa pode lançar   é definida através da Lei Complementar 78/1993, que leva em conta a quantidade de habitantes de cada estado.

Se não me engano, em Minas Gerais o máximo de candidatos que cada chapa pode lançar são 53 deputados federais e 80 deputados estaduais. Com a união dos partidos, essas vagas serão divididas entre eles. Dessa forma, os partidos passam a ter menos candidatos.
  
Vou dar um exemplo para facilitar o entendimento. O PT, se saísse sozinho, poderia lançar 53 candidatos a deputado federal e 80 estadual. Como fez a federação com o PCdoB e o PV, terá que dividir com esses partidos essas vagas. Com isso, PT, PCdoB e PV terão menos candidatos.

Trazendo esse debate para Leopoldina, o ex-vereador Paulo Celestino, que em conversa pessoalmente comigo, tempos atrás, me disse que era pré-candidato a deputado estadual, deixou de ser. Inclusive, tive acesso a lista de pré-candidatos do PT e o nome de Celestino não consta nela. Não sei se essa questão da federação atrapalhou, mas como diminuiu a quantidade de candidatos que o PT lançaria, ficou mais difícil.

Falando em retirada de candidaturas, em conversa com o Ricardo da Paf Pax, o mesmo me disse que não será candidato.  Com isso, Leopoldina passa a ter menos dois pré-candidatos.

Até o momento estão mantidas as pré-candidaturas de Roberto Brito (REDE),  Marcos Paixão (União Brasil) e pastor Heloyr (DC)  a deputado estadual; e José Eduardo (União Brasil) e Rogério Suíno (PSC) a deputado federal.

Trazendo esse debate para nossa região, tivemos algumas mudanças no cenário em Cataguases.  O ex-vereador, Hercyl Salgado, que era candidato a deputado federal retirou sua candidatura. Por outro lado, o nome de Evandro Mendonça, filho da ex-prefeita e ex-deputada estadual, Maria Lúcia, vem sendo comentando nos bastidores políticos onde dizem que é pré-candidato a deputado federal.

Falando nos bastidores políticos, há quem diga que o ex-prefeito de Cataguases, Cesinha Samor, possa vir candidato a deputado estadual. Em contato com alguns camaradas do PCdoB, eles disseram que estão fazendo algumas pesquisas avaliando o cenário e que estão muitos animados com alguns números.

Uma novidade é a pré-candidatura a deputado estadual do policial militar Thomás Vieira, mais conhecido como Soldado. Ele, a princípio viria candidato pelo PT, mas me parece que está indo para o PSOL. Bom destacar que a lei eleitoral permite aos militares definirem o partido que irão concorrer no período em que for aberto o registro das candidaturas, que começa a partir de 20 de julho e vai até o dia 15 de agosto.

Estamos muito próximos de conhecer quem de fato virá candidato. Até lá muita coisa pode acontecer e eu estarei aqui para contar.




Grupo Pérola Negra, uma joia de Leopoldina!

O grupo Pérola Negra é sem dúvida uma das maiores joias de Leopoldina e na cerimônia de inauguração da 84° exposição agropecuária deu mais um belo espetáculo, tanto na dança, quanto na questão social.
 
Estive presente no evento e como de costume só vi gente branca. Presidente da cooperativa e da associação, prefeito, membro do governo do estado, secretários municipais, vereadores, representante de banco, empresários, além de suas esposas e filhos. Quase todos brancos. Muitos até mesmo de uma mesma família, o que até parecia um encontro familiar.
 
Boa parte desses homens brancos, donos de fazendas, agropecuaristas, fizeram questão de citar seus feitos e de suas famílias. Alguns foram mais além, fizeram campanha política, dizendo que deveríamos votar em quem produz, em quem pensa na agropecuária. A velha política coronelista.
 
A cerimônia de inauguração da agropecuária se reduz a isso, gente branca discursando para gente branca, rico discursando pra rico. Até que veio o grupo Pérola Negra para mostrar que a sociedade é formada por pobre, trabalhador e negro.
 
Uma das músicas que apresentaram fala por si. Eles dançaram a música Herdeiros, do grupo Roda de Bamba, que conta sobre os escravos que trabalharam nas lavoras. Vale lembrar que num período da história, Leopoldina foi uma das cidades mineiras que mais teve escravos.
 
Diz a música: “Ô, na lavoura meu avô sofreu. Vovó chorou quando zumbi morreu. Oh meu velho pai, essa memória que de mim não sai. Foi na senzala que aprendeu a amar”.
 
A apresentação do grupo Pérola Negra foi sem dúvida um tapa na cara da sociedade que insiste em esconder a escravidão no Brasil, além de esquecer daqueles que trabalham nas lavouras. Enquanto muitos estavam preocupados em enaltecer seus feitos e de suas famílias, o grupo Pérola Negra lembrou daqueles que trabalham nos campos. Ao falar de Zumbi, senzala e os trabalhadores das lavouras, o grupo Pérola Negra fala por todos aqueles que trabalham. Infelizmente, esses não discursam nas cerimônias, não recebem homenagens, placas, condecorações...   São invisíveis, mas que ganharam destaque na apresentação do grupo Pérola Negra. A apresentação foi de arrepiar. Parabéns a todos os envolvidos.

 




Eurocentrismo leopoldinense!

Essa semana dois fatos chamaram minha atenção em Leopoldina: a Festa do Imigrante Italiano e a aquisição da estátua da princesa Leopoldina. Dois fatos que tem relevância entre si, faz parte do que chamamos na história de eurocentrismo: valorização da cultura europeia.

Deixo claro que não tenho nada contra os italianos, até mesmo os europeus, até porque, sou descendente de europeu, bisneto de português. Meu bisavô veio para o Brasil na onda imigratória da virada do século XIX para o século XX, onde muitos vieram fugindo das guerras, das crises econômicas, mas principalmente, acreditando na promessa de uma vida boa no “Novo Mundo”.

Promessa essa que era propaganda enganosa. Quem veio para o Brasil nessa época veio para substituir os escravos africanos nas lavouras, tendo em vista o fim da escravidão. Ou seja, a ideia da imigração era continuar a exploração, sendo de outra forma, mantendo mão-de-obra barata.

Outra intenção por de trás da campanha imigratória feita pelo próprio governo era embranquecer o Brasil, visando esconder a escravidão. A vinda dos europeus fez com que os donos de fazendas e o governo não precisassem dos negros africanos, que foram abandonados a própria sorte, de forma intencional, de modo a marginalizá-los, assim não incomodariam o sistema, que na época temia ter que indenizar e ceder terras para os ex-escravos. Dessa forma, os imigrantes europeus construíram colônias e os ex-escravos favelas. E tem gente que até hoje acredita na meritocracia.   

Essa é a história da imigração no Brasil. Porém, alguns vão romantizá-la, de forma enaltecer seu povo, isso faz parte da ideia de quem queria embranquecer o Brasil. Sem perceber a gente reproduz o pensamento  eurocentrismo.

O mesmo ocorre quando o setor público resolve construir uma estátua da princesa Leopoldina. Tudo bem que ela dá nome à cidade, mas não tem ligação nenhuma com a ela.  Não passa de uma homenagem que alguém quis fazer para a família real. Quando foi feita a homenagem, a princesa  era uma criança, morreu jovem e nunca pôs os pés por aqui.

Fazer homenagem à família real faz parte do eurocentrismo, enaltecer quem nos colonizou, visando esconder os horrores da colonização: massacre dos povos nativos, escravidão dos negros, roubo das nossas riquezas... . Render homenagens a isso é o que os psicólogos chamam de Síndrome de Estocolmo: quando a pessoa é submetida a um tempo prolongado de intimidação,  passa a ter simpatia e até mesmo amor ou amizade pelo seu agressor.

Existe no campo da história uma corrente que visa romper com o eurocentrismo, sendo chamada de pós-colonialismo, que defende contar uma nova história, a partir dos relatos de quem foi colonizado (invadido).

Ao invés de ficarmos repetindo a história criada por quem nos colonizou (invadiu), deveríamos começar a contar nossa própria história. Uma vez li, não me recordo onde, a história que explica a lenda do feijão cru de outra forma. Fala que o feijão dos tropeiros não cozinhou não foi devido o cozinheiro ter caído no sono, mas sim porque os tropeiros, como medo dos nativos (índios) que dominavam o território,  não podiam manter o fogo acesso por muito tempo, de modo não serem localizados por eles, por causa disso o feijão ficou cru. 

Não sei se tal história é verdadeira, como várias outras que explicam a origem do nome Feijão Cru, mas acho que essa deveria ser adotada por nós, pois destaca que havia povos nativos na região, que foram massacrados pelos portugueses, tropeiros, bandeirantes, donos de fazendas... que até hoje tentam esconder isso da gente.

Alguns tentam vender a ideia de que o Brasil é um lugar de paz por ser miscigenado, respeita todos os povos. Nunca foi, pelo contrário, nossa história é feita com muito sangue, o que muitos tentam esconder.

Quando vamos começar a contar nossa própria história ao invés de repetir a história dos nossos dominadores? Por que insistir nesse discurso europeu, por exemplo, dizer  que Leopoldina é Athenas da Zona da Mata, uma deusa grega, europeia? Por que não ser uma deusa da mata?

Devemos fazer aquilo que os escravos africanos fizeram no período em que os católicos os obrigaram a aceitar sua religião, onde eles pegaram seus orixás (deuses de sua religião) e transformaram em santos católicos. Dessa forma, Ogum virou São Jorge, Xangô - São Pedro, Iansã – Santa Bárbara, Oxalá – Senhor do Bonfim, Exú – Santo Antônio... . Uma forma de manter viva sua religião.

Se querem uma estátua de uma princesa, por que não fazer uma estátua de uma princesa índia? Até mesmo uma estátua de Jerônima Mesquita, leopoldinense que foi uma das pioneiras da luta das mulheres no Brasil, inclusive o dia Nacional da Mulher da Mulher (30 de abril) é uma homenagem a ela, pois é a data de seu nascimento.

Temos uma história linda que precisa ser contada. Cabe ao setor público fomentar isso e não repetir uma velha história. Precisamos falar dos Puris, Coroados, Coropós... Por que não inserir no calendário festivo o Dia do Índio, com caminhadas, culinária indígena, danças, músicas? Por que não colocar na Feira da Paz uma barraca dos Puris? Volto a questionar, por que não uma estátua de uma índia?

Como dizia Nelson Rodrigues, temos que parar com esse complexo de vira-lata que acha que não tem nada de bom por aqui e que devemos recorrer a história de outros povos.