quarta-feira, 29 de março de 2017

Se eu fosse você!?

Se eu fosse você!?

Paulo Lucio – Carteirinho

O leitor já deve ter lido um livro ou assistido um filme - seriado, desenho, peça teatral - que trata da troca de corpos. Cito como exemplo o filme brasileiro: Se eu fosse você. O filme narra à história do casal, o publicitário Cláudio (Tony Ramos) e professora de música Helena (Glória Pires), que ao acordar percebem que estão em corpos trocados: Helena está no corpo de Cláudio, Cláudio no corpo de Helena.

O filme é muito bom. Tanto que lançaram: Se eu fosse você 2. Mas não é minha intenção falar sobre o filme. Venho tratar da troca de corpos na vida real. Entre a direita e a esquerda.

Venho notando ao longo do tempo que um trocou de “corpo” (pensamento) com o outro. Claro que não podemos generalizar. Temos ainda esquerda e direita raiz. Além do mais, definir o que é direita e esquerda é algo muito complicado. Envolve muitas teorias e conceitos. Mas uma questão básica os diferenciam: o papel do Estado na sociedade.

A direita defende o direito individual. A inciativa privada. A criação do Estado Mínimo. Menos participação do Estado na sociedade.

A esquerda defende o direito coletivo. O setor púbico. Mais participação do Estado na sociedade. Controle estatal da economia e a interferência do governo em todos os setores da visa social.

Na teoria é assim. Mas na prática eles estão fazendo o contrário. A esquerda organizada através dos sindicatos luta para ter mais acesso ao setor privado, tendo como reinvindicação da classe trabalhadora: plano de saúde, previdência complementar, bolsa de estudo, reembolso creche, vale combustível... Falo por experiência própria. Trabalho numa Estatal (Correios) que me fornece benefícios atrelados à iniciativa privada. Tenho plano de saúde (Postal Saúde) que atende não só eu, mas minha esposa, filhos e pais. Tenho plano de previdência complementar (privado): Postalis. Além de outros benefícios fornecidos via setor privado.

Do outro lado, a direita vestida de verde e amarelo sai às ruas pedindo mais acesso ao setor público: melhoramento da saúde, educação de qualidade, mais segurança e melhor uso dos impostos.

Como podem notar, um adotou o “corpo” do outro. A esquerda faz greve para ter mais acesso ao setor privado e direita manifestações para ter mais acesso ao Estado.

Se já era complicado definir o que é direita e o que é esquerda, agora ficou muito mais complicado. Resta saber se haverá a troca de corpos novamente. Quando a esquerda voltará a ser esquerda e a direita ser direita. Lembrando que não vale ficar só no discurso.

quinta-feira, 16 de março de 2017

Intervenção militar!?


Intervenção militar!?

Paulo Lucio – Carteirinho

A direita conservadora cresceu muito nos últimos tempos. Fazendo com que muitos saíssem do armário - vestindo verde e amarelo. Com um discurso pseudonacionalista, moralista e conservador. Em defesa da: ordem, “família” e dos bons costumes. Muitos vão além, chegam a pedir intervenção militar. Como se a Ditadura Militar fosse à solução para todos os problemas.

Os pedidos de intervenção militar ganham força tendo em vista o aumento da insegurança. Fazendo com que muitos comparem os dias atuais com o da época da Ditadura. Segundo os defensores do militarismo, naquela época não havia tanta “bandidagem”.

Comparação é algo complicado de ser feito. Tendo em vista que, na grande maioria das vezes, é feita de forma superficial. Não leva em considerações dados importantes. No caso da segurança, por exemplo, temos que levar em conta que na década de 60, período do Golpe Militar, o Brasil ainda era um país agrícola. Mais de 55% da população era rural. Apenas 45% urbana. Segundo dados do IBGE.



Talvez o leitor tenha ouvido falar de Êxodo Rural – migração do campo para a cidade. Isso ocorreu em vários momentos e por vários motivos, principalmente no período da Ditadura Militar, que impedir a realização da Reforma Agrária. Uma das propostas de João Goulart (Jango) – presidente retirado do poder pelos militares.

A não realização da Reforma Agrária naquela época, somada a falta de políticas públicas para a população rural fez com que muitos deixassem o campo indo em direção as cidades. Na década de 70 por exemplo, primeiros anos da Ditadura Militar, a população urbana igualou a rural. Nas décadas seguintes, 80 e 90, já no final da Ditadura Militar, a população urbana superou a rural. Atualmente, a população urbana representa 85% e a rural apenas 15%.

A vinda do homem do campo para a cidade trouxe graves problemas sociais. A começar pela questão da moradia. Onde a população do campo foi morar na cidade? Em bairros nobres, mansões, centro? Não! Em favelas, invasões, acampamentos, subúrbios, ruas, debaixo das pontes, viadutos...

As cidades ficaram entupidas de gente. Morando em locais sem nenhuma infraestrutura e condições. Sem a presença do Estado. O que contribuiu para o aumento dos problemas sociais, principalmente a violência: roubos, furtos, assassinatos e principalmente o tráfico de drogas.

Por falar no tráfico de drogas, foi justamente no período da Ditadura Militar que surgiram as primeiras facções criminosas. Com destaque para o Comando Vermelho, que surgiu quando presos políticos foram misturados com presos comuns. Caso o leitor queira saber mais a respeito desse tema, assista ao filme: 400 contra 1. Conta à história do surgimento do Comando Vermelho.




Como podem notar, a sociedade do período da Ditadura Militar era totalmente diferente da atual. A maioria estava no campo. Onde imperava o coronelismo. Os coronéis eram os xerifes. Mandavam mais que os próprios militares. Adotando da violência como forma de controle. O que acabava criando a sensação de um país “seguro”. Claro, seguro para quem não ousasse a se levantar contra seus mandatários. Aqueles que eram contra o governo (militares) e os coronéis sofriam: perseguições, prisões, torturas, assassinatos, exílio...

Hoje, devido os problemas gerados na época da Ditadura Militar, como o Êxodo Rural e o surgimento das facções criminosas, a situação ficou muito mais complicada. Não há militar que dê jeito. Ainda mais conhecendo seus métodos: violência contra violência.

O buraco é mais embaixo. Não vai ser a violência contra a violência que vai resolver. Pelo contrário. Países que adotaram tratamentos mais humanizados, revendo seu código penal, principalmente na questão da repressão do tráfico de drogas, estão conseguindo diminuir a violência sem dar um tiro. Estão inclusive fechando presídios. Diminuindo os gastos do Estado. Com o dinheiro que sobra, os países investem na educação: solução para muitos dos nossos problemas.

Deixando de lado a questão da segurança, partindo para a questão econômica, temos que lembrar que a Ditadura Militar não ocorreu somente no Brasil. Começou no Paraguai (1954). Depois Brasil (1964), Argentina (1966), Uruguai e Peru (1968),Bolívia (1971), Equador (1972), Chile (1973)...

Como podem notar, a Ditadura Militar ocorreu em quase todos os países da América. Isso tem uma importância para a manutenção do regime militar. Já que os demais países reconheceram o Golpe de Estado. Que inclusive foi financiado por outros países, em especial Estados Unidos e muitos da Europa.

Se por acaso o Golpe de Estado não fosse aceito, traria graves problemas para esses países. Que não teriam seus governos reconhecidos. Sofrendo assim sanções econômicas.

Aí fica a dúvida: uma Intervenção Militar nos dias de hoje seria aceita pela comunidade mundial? Duvido muito. A democracia é uma conquista da sociedade. Ditadura Nunca Mais! Sabendo disso, quem prega Intervenção Militar tem que saber dos riscos que um possível Golpe poderá trazer. Podendo ocorrer o isolamento desse país.

No caso do Brasil, vale destacar que temos acordos econômicos com quase todos os países do mundo. Em especial Rússia, China, Índia, África do Sul devido o BRICs. Além de forte presença no MERCOSUL. Temos uma boa relação comercial. Uma Intervenção Militar pode fazer com que o governo do Brasil não seja reconhecido. Com isso, muitos desses acordos econômicos desfeitos. Aumentando ainda mais a crise econômica. Fora o caos político que será criado internamente.

Sendo assim, antes de sair gritando: Intervenção Militar; pensem nos problemas que serão criados. Caso não queira pensar no futuro, pegue um livro de História e veja como foi no passado. Leve em conta o que citei.

domingo, 5 de março de 2017

Empresa de Bem-estar Social!?

Empresa de Bem-estar Social!?

Paulo Lucio - Carteirinho

A crise de 1929, também conhecida como Grande Depressão, arrasou a economia mundial na época. É considerada por muitos como a maior recessão econômica da história do capitalismo.

Naquela época, imperava o Liberalismo. Modelo político e econômico que pregava liberdade do mercado em relação ao Estado. Como alternativa para sair da crise, muitos países adotaram as ideias de John Maynard Keynes: o Keynesianismo. Uma forma de organização política/econômica fundamentada a partir do Estado. Que passa a ter papel fundamental em estimular a economia. Sendo o agente regulamentador da vida e saúde social.

Segundo Keynes, o Estado é quem se responsabiliza pela política econômica. Cabendo a ele, as funções de proteção social dos indivíduos: saúde, educação, seguridade social. Surgindo o Estado de Bem-Estar Social. Destaco algumas propostas criadas: redução da carga horária para 8 horas de trabalho, proibição do trabalho infantil, criação do seguro-desemprego, criação da Previdência Social, educação e saúde pública...

Esse modelo prevaleceu por muito tempo. Até a década de 70. Quando ideias liberais voltam a ganhar força. Surgindo o “Neo”liberalismo. Coloquei o “Neo” entre aspas, pois de novo (neo) não tem nada. Nada mais é do que o antigo pensamento liberal. Defendendo basicamente as mesmas ideias do passado: mais liberdade para a inciativa privada; menos intervenção do Estado.

Para os liberais, o setor público deve ser substituído pela inciativa privada. Criando assim o Estado Mínimo. Durante o “neo”liberalismo tivemos o sucateamento dos serviços públicos, privatizações, desregulamentação do setor financeiro e a flexibilização do mercado de trabalho. Tudo em prol do interesse privado.

O modelo “neo”liberal foi muito combatido pelos trabalhadores. Que não conseguiram impedir a implantação das ideias “neo”liberais. Por fim, os trabalhadores acabaram se rendendo ao “neo”liberalismo. Inclusive ajudando na construção do Estado Mínimo. Como diz o ditado: “se não pode com o inimigo, se alie a ele”.

Seduzidos pelo canto da sereia (capitalismo), os trabalhadores abandonaram a luta coletiva (público) e começaram a lutar por interesses individuais (privado). Deixando de fazer a luta política e se dedicando a luta sindical. Afastando do socialismo e se aproximando do capitalismo. Achando que o Estado não é mais necessário, tendo em vista que a empresa a qual faz parte pode atender suas necessidades. Criando assim: a Empresa do Bem-Estar Social.

Para os trabalhadores, cabe à empresa fornecer: saúde (plano de saúde para funcionários e familiares), medicamentos, educação (bolsas, cursos, treinamentos, reembolso creche), segurança, previdência complementar (privada), transporte, moradia, alimentação, empréstimo, cultura, esporte ... .

A Empresa do Bem-Estar Social é fruto do Estado Mínimo. Da luta sindical. Acontece que esse modelo está no fim. Tendo em vista que a ausência do Estado e das políticas públicas aumentou os gastos das empresas. Cito como exemplo os Correios, a empresa a qual faço parte. A empresa fornece plano de saúde para os todos os funcionários (mais de 100 mil), além de seus dependentes (cônjuge, filhos e pais). Ao todo são mais de 400 mil membros. Sendo o valor gasto anualmente acima de R$ 1 bilhão. Citei apenas o gasto com saúde, fora educação, transporte, segurança... .

Como podem notar, a política do Estado Mínimo é muito caro para as empresas. Veio à crise econômica e muitas empresas estão aproveitando o momento para romper com a Empresa do Bem-Estar Social. Revendo benefícios e direitos dos trabalhadores.

Pegando carona na crise, muitos empresários forçam o governo a aprovar a Reforma Trabalhista. Cheia de ideias liberais visando flexibilização do mercado de trabalho. Destaco para algumas propostas: aumento da carga horária de trabalho, diminuição do horário de almoço, divisão das férias, criação do bando de horas (acabando com o pagamento das horas extras), negociado x legislado (o patrão acima da lei)...

Não poderia deixar de citar a Reforma da Previdência. Que também faz parte do pacote liberal. Como combater isso? Muito difícil! Ainda mais quando se tem uma classe trabalhadora despolitizada. Que tem nojo de política. Tendo em vista que por décadas lutaram pelo privado. Acreditando que não precisaria do Estado e do governo. Agora colhem os frutos que plantaram. Terão que aceitar a decisão do Deus Mercado.