Cotas X Exclusão e Preconceito
Paulo Lucio - Carteirinho
Recentemente, o Supremo Tribunal Federal, julgou
constitucional a reserva de vagas do sistema de cotas raciais, tema que foi
muito debatido em diversas mídias.
Mas as cotas são necessárias? Por quê? Até
quando?
Visando responder algumas dessas
perguntas, busquei alguns dados, não apenas da área da educação, mas também do
mercado de trabalho e da participação dos negros no debates da mídia falada.
Durante todo o mês de maio, fiz
algumas pesquisas em Cataguases e percebemos que aqui, apesar de termos uma
população predominante negra, são "Donos da Voz” e do mercado de trabalho
uma minoria branca.
Em relação ao mercado de trabalho,
apesar de muitos dizerem que o que conta é a capacidade, notamos que não é bem
assim. Infelizmente, a cor interfere. Comprovamos esse fato através de uma
simples ida ao comércio ou ao setor público e privado, principalmente, nos
melhores e mais requisitados empregos, onde quase não encontramos negros.
Predomina a cor branca nas gerências de bancos, supermercados. É também de pele
clara a maioria dos médicos, dentistas, promotores, juízes, vereadores,
secretários, empresários... .
Não estou dizendo que não existem
negros nessas profissões. Até tem. Mas são poucos. Dá para contar nos dedos de
uma só mão e ainda sobram dedos.
Outra constatação que fiz veio com a
coleta dos dados relativos à predominância da “voz” e da “democracia”.
Acompanhando alguns programas de debates das rádios locais, percebi que neles
também prevalece a presença dos cidadãos brancos. Comprovo esse fato com
números. Durante todo o mês de maio – mês em que se comemora a “Abolição” -
ouvi um programa de uma rádio “comunitária”.
O resultado da pesquisa foi impressionante e fala por si só. É “Conversa Branca”. Nas 27 edições do
programa, participaram 40 convidados, onde nenhum é de cor negra de fato.
Alguns morenos, mulatos, pardos, mas que também são minorias, em torno de 5, o
que representa um percentual “afrodescendente” de apenas 12,5%. Dessa forma, 85%
dos participantes do programa, em maio, eram brancos.
Sem trocadilhos, talvez isso
explique o apelido de “Chapa Branca” do programa.
Enquanto os negros são esquecidos e
excluídos, os brancos se repetem no programa, alguns deles chegando a
participar por duas, três e até quatro vezes no mês. Por que essa
repetição de nomes? Por que são sempre os mesmos? Isso é democracia?
Não existem na cidade outros convidados qualificados para o debate? Por que ao
invés de manter sempre os mesmos convidados, não são abertos espaços para a
participação dos negros? Será que alguém vai ter que recorrer à política de
cotas para negros na nossa mídia de Cataguases?
Vale lembrar que em existem em nossa
cidade diversos Movimentos organizados em torno das questões raciais, com
destaque para: Dandara, Gamgazumba e APNs. Movimentos que contam com
diversas lideranças negras que participam de fóruns, palestras, seminários,
debates, inclusive em outras cidades e outros Estados. Mas esses, pelo que
parece, não contam com o olhar dos “Donos da Voz” dos programas de debate de
nossa cidade. Por que será?
Vale destacar também a exclusão das
mulheres, gays, deficientes e dos mais
humildes. Dessa forma, as “vozes” de
nossa “democracia” é machista, branca e rica – maioria dos convidados são
doutores, empresários, comerciantes, burgueses... .
Enquanto persistir essas exclusões
as cotas serão necessárias. Cotas
raciais, sociais, sexuais, para os
deficientes... que não devem ficar
apenas nas universidades. Cotas contra o
preconceito que começa a partir da exclusão.
Espero que essa minha pesquisa dê uma contribuição mínima para diminuir essa
exclusão em Cataguases. E que incluam os negros, as mulheres, os gays, os deficientes, os mais humildes de vez na nossa sociedade.
Enquanto persistir o preconceito e a
exclusão as costas serão necessárias. Cotas sim, preconceito e exclusão não!