quarta-feira, 30 de março de 2011

Carnaval, o povo faz e o prefeito mostra?

Paulo Carteirinho

Toda vez que chega o carnaval aparece o discurso: “O carnaval não é mais o mesmo”. Na verdade, o que não é mais a mesma, é a cultura do povo. Nos dias de hoje, prevalece a cultura de massa. Evento “bom” é avaliado de acordo com o número de público presente. Porém, há um antigo ditado que diz: “Quantidade não significa qualidade”.

No caso do carnaval de Cataguases, o “bom” é quando a Avenida Astolfo Dutra está lotada. Como se carnaval tivesse hora e local marcado para acontecer e fosse á noite.

A cultura de massa interfere nas vestes, onde fantasias são deixadas de lado - no máximo uma peruca, um óculos grande, colar havaiano e na mão um lata de spray lançando espuma. A maioria prefere portar grifes da moda e expor os cabelos bem arrumadinhos.

No carnaval da cultura de massa, hoje, nos são dadas bandas Cover, repetindo à exaustão o “melhor” do axé (música tradicional na Bahia). As famosas marchinhas de carnavais são substituídas pela batida do funk (música tradicional do Rio de Janeiro). Em vez do tradicional “Mamãe eu quero mamar” escutamos o “Vai mamada! Vai mamada!”. Ao invés do “Ê, ê, ê, ê, ê, Índio quer apito, se não der pau vai comer!”,escutamos “Tapinha nada, no meu macho eu dou porrada”, seguida de “Um tapinha não dói, só um tapinha”.

Outra intervenção da cultura de massa está presente também nas drogas, aposentada o inocente lança-perfume, entrando em cena a cocaína e sua derivada mortal, o crack. Maconha é quase igual ao cigarro. O álcool é consumido em grande quantidade.

Claro que não podemos generalizar, há também os que defendem o carnaval à moda antiga e cultivam o hábito do desfile das escolas de samba, cada vez mais raros. De vez enquanto, uma ou outra, como a fênix, ressurge das cinzas. Mas vale destacar que escola de samba é cultura do Rio de Janeiro e agora São Paulo: exige planejamento e grandes patrocínios.

A cultura de massa importa um pouco de cada carnaval. O axé da Bahia; frevo de Pernambuco; Funk e Samba do Rio de Janeiro; Onde está a identidade do Carnaval?

Qual é a do carnaval de Cataguases?

Falo por mim: Carnaval são os blocos de ruas. Por falar em bloco, esse ano eu participei, pelo quarto ano seguido, da Cooper Beer, em Leopoldina. A Cooper Beer é uma turma de amigos que se concentra todo domingo de carnaval, por volta das dez horas da manhã, no Bar do Fabinho, na Praça do Rosário. Nem a chuva atrapalhou. Saímos de manhã fantasiados, desfilando pelas ruas da cidade, freqüentando os bares, fazendo folia, celebrando a vida. Eu, sem ingerir bebida alcoólica, puxei do fundo do baú a minha natural alegria e curti o evento numa boa. Afinal, carnaval não é bebedeira. “É tudo uma grande brincadeira”, e brincar, a essa altura de nossa existência, é preciso.

Relembro também, o famoso futebol que acontece, todo sábado de carnaval, por volta das 15:00, em Realengo/RJ (bairro que eu morava), onde só é permitido jogar quem estiver vestido de mulher. Depois do futebol, a rua é fechada e churrasco rola ao som do funk e pagode. No dia seguinte, domingo, é a vez do bloco do pijama. O bloco concentra-se ainda de madrugada e depois sai pelas ruas do bairro festejando, unificando-se com o bloco da Corda, que se concentra por volta das 6:00 horas da manhã: uma grande corda é puxada pelos participantes e, misturando-se com a batucada, vem o grito de guerra: “A corda, a corda...”,num contundente convite aos foliões a dorminhocos que venham compor a folia.

Não poderia deixar de citar o famoso bloco Flapetinga, da cidade de Pirapetinga/MG. Bloco inspirado no time rubro-negro carioca e que atrai milhares de pessoas, inclusive torcedores de outros times, que nesse dia esquecem as rivalidades e assumem o vermelho e preto. É o Carnaval Futebol Clube.

Isso é carnaval: povo fantasiado e brincando,nos 4 dias de carnavais, sem corda separando o cordão, sem tutela política. Carnaval não é somente nos coretos e avenidas. Quem faz o carnaval não são as prefeituras, mas sim o próprio povo. Cabe a Prefeitura apenas ceder a infra-estrutura quando for o caso e deixar que o povo, de forma espontânea, destile sua alegria.

Voltando ao carnaval, espero que a população de Cataguases abandone a cultura de massa e crie blocos de rua. Brinquem o carnaval de manhã, tarde e de noite. Nos quatros dias. Seja na Avenida e até nos bairros.

Lembrando que carnaval não é mérito de Prefeitura, que com certeza, vai aproveitar e colocar nos jornais, sites e outdoors, o discurso: “Carnaval a gente faz, a gente mostra”. Mas na verdade, o carnaval, carnaval mesmo é alternativo, irreverente, alegre e descomprometido. Não se faz, ele acontece; não precisa mostrar que ele aparece por si só.

Nenhum comentário: