quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Tiro no pé


  Tiro no pé!

Paulo Lucio - Carteirinho

Coloquei a cara a tapa
Mas ao invés de um tapa
Fui atingido por um tiro de garrucha velha e enferrujada
Pelas costas
Disparado por um ditador
A longa distância

Fiquei em coma por um  dia
E agora   em observação
Por tempo indeterminado

 A bala penetrou na minha  cabeça
E  percorre  o meu corpo

Acertou    o   cérebro
Matando meus  pensamentos
Mas não  a minha forma de pensar

Perfurou o   tímpano
Afetando  a   audição
Mas não me impede  de escutar  a voz interior
Que diz: Não desista!

Atingiu a  retina
Impedindo  a   visão
Mas  não  a  forma que vejo o mundo

Passou   pelo    aparelho respiratório
Prejudicando  a respiração
Mas não me impede    de respirar novos  ares

Seguiu para a laringe
Silenciando minha  voz
Mas não   a vontade de  gritar: Liberdade!

Dirigiu para a  coluna
Paralisando meu  corpo
Mas não me impede   de movimentar minhas idéias    

Circulou   pelo pulmão
Retirando o ar
Mas não   o ar de esperança

Chegou  ao  coração
Causando um estrago 
Mas não    o impede de  bater mais forte

Marchou  para o fígado
Ocasionando   ressaca moral
Mas não me impede de tomar um  porre de felicidade

Prosseguiu   pelo pâncreas
Produzindo  diabete
Mas não me  impede de ser uma pessoa mais doce

Visitou  os rins
Juntando com as pedras no meu caminho
Mas  não me  impede de expeli-las

Moveu  para o estômago
Deixando de barriga cheia
Mas não me tirou a fome de lutar

Avançou  para intestino
Junto com uma grande massa podre
Mas não me faz cagar  de medo

Por fim parou no  ânus
Que disparou um tiro
Saindo pela culatra
 E a  bala volta  novamente para  o meu  corpo
Caindo   na veia sanguínea
Caminhando para a perna
Parando no pé
Onde ficará alojada 

Foi um  tiro no pé
Que   não me impedirá de caminhar
Para onde minha ideologia me guiar. 

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