domingo, 6 de setembro de 2015

Nosso exército!

Nosso exército!

Paulo Lucio – Carteirinho

Em período de greve muito se escuta falar em unidade. A união de toda a categoria. 100% de paralisação. Greve geral... e por aí vai.

Muito bonito na teoria. Mas na prática é complicado. Tendo em vista que nossa categoria é muito heterogênea. São vários cargos: carteiros, atendentes, otts, motorista, motociclistas, administrativos –supervisores, coordenadores, gerentes, diretores....). Cada um com um salário.

Outro detalhe é a questão de tempo de casa. Temos várias gerações diferentes. Temos colegas que entraram na empresa na época da Ditadura Militar. Outros nos governos Sarney, Collor, Itamar, FHC, Lula e Dilma. Ou seja, em épocas diferentes. Passando por diversas situações.

Os mais novos - o qual me incluo – pegamos uma época boa. A era PT foi muito boa para a categoria. Tivemos grandes conquistas: aumentos acima da inflação, 30% de periculosidade, anuênios, vale peru, vale cultura, 4 ticktes extras, abonos, GIP ... .

No passado não tão distante, era Collor/Itamar e FHC era arrocho salarial. Inflação acima de dois dígitos e reajustes abaixo de 2%. O que explica o fato de que os mais novos recebem quase que a mesma coisa que os mais velhos. Foram anos e anos sem reajustes. Com várias demissões.
Sucateamento público e o terror da Privatização.

Mas não vim aqui para falar de governos. Venho falar da categoria. Analisar o perfil do nosso exército.

Estamos espalhados Brasil a fora. Das capitais ao interior. Sendo que temos muito mais funcionários no interior do que nas capitais. Para quem trabalhar no interior o custo de vida é bem menor. Chamo atenção para outro detalhe, nossos salários são maiores que das outras categorias, que não chegam a valor do nosso ticket. Isso explica porque muitos do interior não aderem a greve. Trabalhar nos Correios é o sonho de muitos no interior.

Destaco também que dentro de uma unidade temos várias diferenças. Vou citar o exemplo de um CDD para facilitar o entendimento. O CDD Cataguases/MG. São cerca de 23 funcionários. Tem um gerente, supervisor e um administrativo. Os três maiores salários do CDD. Vocês acham que esses vão aderir ao movimento paredista? Claro que não, ou seja, restam apenas 20.

Desses 20, temos 4 motociclista e 2 motoristas. Em breve serão, 5 motociclista e 3 motoristas. Vale lembrar que quem tem portaria ganha mais que os demais. Além da função, a grande maioria trabalha sábado, recebendo de 3 a 4 tickets (30 - 31 dias), além de 15%. Somando tudo ultrapassa chega a R$ 500. Para eles o salário é ruim?

Restam 12 carteiros. Sendo que alguns são antigos, inclusive já aposentados. Ou seja, possuem duas rendas. Ganham mais. Nunca fizeram greve, vão fazer agora? Como conseguir sensibilizar esses companheiros para ir a luta por quem ganha menos?

Vale destacar que quem ganha menos não estão indo para a luta. Afinal, quem ganha menos normalmente são os mais novos, que até pouco tempo estavam desempregados ou ganhando menos em outros empregos. O cara consegue passar no concurso público, ganhando muito mais que antes, com vários direitos vocês acham que eles vão querer ir para greve?

Destaco também que os mais novos não gostam muito de entregar cartas. O negócio deles é tentar trabalhar interno. Conseguir um cargo. Crescer na empresa. Com isso, muitos não vão aderir a greve com medo de prejudicá-los. .

Conclusão, de um CDD com 23 funcionários, um ou outro que que vai aderir ao movimento. Esse é o nosso exército. Acho muito difícil conseguir uma mobilização para uma greve geral. Ou por aumento salarial sem saber ao certo o quanto estamos pedindo. Qual é a nossa proposta? Apesar de que o ACT engloba várias outras reivindicações.

Citei o exemplo do CDD Cataguases que representa bem outras unidades, do interior e até mesmo da capital. Somos uma categoria formada por vários cargos e gerações.

Cabe ao movimento sindical analisar o perfil do nosso exército e tentar conseguir formas de mobilizá-los.

Venho sugerindo a tempos paralisações temáticas. Sendo mais objetivas. Por exemplo, vamos tirar um dia de paralisação para defender o Plano de Saúde. Será apenas um dia, sendo que repetiremos outros dias até que a empresa atenda nossa reivindicação.

Vamos fazer um dia de paralisação para cobrar o pagamento da PLR.

Acho que dessa forma teremos conseguiremos uma grande mobilização. Chamar para greve por tempo indeterminado é complicado. Ainda mais quando sabemos das táticas da empresa para enfraquecer o movimento, descontando os dias parados. Outro detalhe é que a grande maioria do ACT estão parando no TST, que nos obriga a voltar ou aceitar uma mediação que nem sempre é boa para nós.

Manifestações temáticas. Esse é o caminho. Conseguiremos mobilizar uma quantidade maior de funcionários.

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