domingo, 1 de junho de 2014

Segurança!

Segurança!?

Paulo Lucio - Carteirinho

Estamos nos aproximando das eleições. Nesse período refletimos sobre o futuro, analisando o presente. É o momento em que discutimos nossas mazelas e problemas, e olha que não são poucos.

Algumas demandas da sociedade se destacam. No caso dessas eleições, um dos temas chaves será a segurança. Tema que será utilizado na disputa eleitoral, visando angariar votos mediante a fragilidade do governo para enfrentar esse problema, mas que os candidatos irão abordar superficialmente.

O tema segurança está em alta devido a alguns fatores, tendo em vista o aumento do uso de drogas como, por exemplo, o crack, uma chaga da nossa sociedade, somado ao domínio de algumas áreas pelos traficantes. Mas os debates serão em torno da insegurança, ligada aos roubos e furtos.

Sobre essa insegurança há uma explicação lógica: o melhoramento da vida dos brasileiros. Os números falam por si. Tivemos uma redução de 27%, automaticamente, elevou à classe média, que teve um crescimento de 53% da população, ainda tivemos 20% de crescimento da classe alta.

Essa mudança social se deu devido ao ciclo de crescimento econômico do país nos últimos anos, combinado com as políticas de redução da pobreza e da desigualdade. O crescimento da renda dos mais pobres promoveu o surgimento de um novo grupo, a nova classe média. A nova classe média brasileira representa mais de 50% da população e é muito diferente da classe média tradicional, mais independentes, ligada à iniciativa privada. Os emergentes são mais sociáveis e dependentes das políticas públicas. Exigem mais presença do Estado, conforme vimos nas manifestações.

Lembro-me de um comentário da deputada federal Margarida Salomão (PT/MG), quando veio a Cataguases e fez uma análise das manifestações, dizendo: Da porta pra dentro melhorou muito a vida dos brasileiros, da porta pra fora não acompanhou esse desenvolvimento.

Realmente, da porta pra dentro mudou muito. Falo por experiência própria, afinal, faço parte dessa mudança social. Venho de família pobre e melhoramos de vida. Além do que, o fato de eu ser carteiro me põe em contato com a população, e vejo essa mudança social. Por onde passo, vejo as casas sendo reformadas e ampliadas, mobiliadas, com acesso a tecnologias, veículo na garagem …

Essa mudança social mudou o comportamento das pessoas. Sou da época em que as janelas e portas das casas ficavam abertas, casa arejada, com pouca coisa dentro, uma vida simples. Hoje, além das trancas, temos muros cada vez mais altos, cercas, cães bravos nos quintais... alguns vão além, com câmera de segurança, cerca elétrica, alarmes, segurança particular, vidros brindados...

Tem um conto que gosto muito e explica bem essa situação:

Um fazendeiro milionário vivia com medo e inseguro. Não andava sem seguranças, seu carro era blindado, sua casa parecia um presídio, com muros altos e com cercas elétricas.
Perto de sua casa, morava seu caseiro, um homem simples, vivia com pouca coisa, sem luxo algum. À noite, da janela do seu quarto, a mulher do fazendeiro via o caseiro do lado de fora da casa, tranquilo, deitado na rede, tomando pinga e tocando violão, com a casa toda aberta.
A esposa do milionário não conseguia entender aquela vida tranquila. Certo dia seu marido milionário resolveu mostrar porque aquele homem vivia tranquilo. Chamou o caseiro no escritório e entregou para ele um maço de dinheiro, em torno de R$ 100 mil , e pediu para que ele guardasse em casa, tendo em vista que o patrão iria viajar e um amigo pegaria o dinheiro pessoalmente, já que não queria depositar na conta, devido às taxas do banco, muito menos envolver outras pessoas, como a sua mulher, que não poderia saber disso.
O caseiro obedeceu ao patrão. Pegou o dinheiro e guardou debaixo do colchão. O milionário contou para a mulher o que fez e pediu para ela analisar o comportamento do caseiro. Desde que aquele dinheiro entrou na casa do caseiro, ele mudou completamente seus hábitos. A casa que vivia aberta, agora ficava trancada.
O caseiro não ficava mais à noite do lado de fora, tocando violão e tomando cachaça. Seu semblante não era mais o mesmo, vivia preocupado, não se afastava de perto da casa.
Foi assim até que o patrão retornou e pegou o dinheiro, já que o tal amigo não apareceu. Imediatamente, o caseiro devolveu o dinheiro e pediu para que o patrão não fizesse mais isso, pois aquele dinheiro tirou a tranquilidade dele.

O crescimento econômico em torno do consumo melhorou a vida de muitos, ao mesmo
tempo trouxe insegurança e medo. Para termos mais segurança dentro da política do consumo, não basta leis mais rígidas, como a redução da idade penal, pena de morte ou prisão perpétua, como vem propondo alguns candidatos.

O melhor caminho é cada vez mais pessoas acompanharem esse crescimento, tendo condições de poderem ter acesso aos bens de consumo, diminuindo assim a necessidade ou vontade de tomar o bem do outro.

Para finalizar, cito como exemplo o caso de Pernambuco. Devido a greve dos policiais, milhares de pessoas saíram as ruas e fizeram saques as lojas. Passado alguns dias, muitas pessoas devolveram os produtos saqueados. Delegacias ficaram lotadas de materiais devolvidos. Os arrependidos perceberam que não precisavam saquear para ter esses produtos, que aquilo era algo de errado.

Teremos segurança quando as pessoas tiveram condições de acompanhar o desenvolvimento.

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