domingo, 14 de março de 2010

Construção ou destruição?

Assistindo ao Fantástico na semana passada, uma notícia me chamou a atenção.

Trata-se de uma pesquisa para os moradores de cinco grandes cidades brasileiras, onde pretensamente se iriam construir conjuntos imobiliários luxuosos em espaços históricos, turísticos e locais públicos.

De acordo com a pesquisa, uma construtora ousada está chegando nas cinco cidades brasileiras para sacudir o mercado imobiliário de alto luxo.


Apresentam os projetos com maquete, cartazes, banner e um estande completo. O preço, que varia entre R$ 2 e R$ 8 milhões. Construções no Pão de Açúcar, no Rio de Janeiro, na praia de Boa Viagem, no Recife, na praia de Pitangueiras, no Guarujá, no meio da Lagoa da Conceição, em Florianólpolis, e no lago mais foto do Distrito Federal.

Depois de apresentado o projeto, são feitas as seguintes perguntas: Você se interessou? Está querendo comprar? Ou ficou revoltado com esse lançamento?

O resultado da entrevista não poderia ser diferente, alguns criticaram as construções, porém a maioria aprovou.

No Guarujá, 59% das pessoas gostaram da idéia. Nove por cento das pessoas não deram opinião e só 31% foram contra o projeto. No Recife, a maioria – 61% – aprovou o empreendimento. Dezessete por cento das pessoas não se manifestaram e apenas 22% criticaram a idéia. Em Florianópolis, a maioria preferiu o silêncio: 46% das pessoas não se posicionaram. E apenas 12% foram contra. Guarujá, Florianópolis e Recife aprovaram a idéia. A pesquisa continua no Rio de Janeiro e em Brasília.


Outra reportagem: o programa Esporte Espetacular em ritmo de Copa do Mundo, fez uma viagem ao tempo e mostrou o que sobrou do estádio do primeiro jogo e do primeiro gol do Mundial, feito pelo Francês Lcuien Laurent, em 13 de Junho de 1930, da Copa do Mundo realizada no Uruguai.

O estádio não existe mais. No espaço onde ficava o campo do primeiro jogo, apenas casas em uma pacata Rua de Montevidéu. Na calçada, um monumento que marca o local do gol. O descaso é tanto que os moradores desse bairro desconhecem a história da esquecida Copa do Mundo de 1930.
Na casa de frente ao monumento, as irmãs da família Kaiser moram há anos no local e não sabiam da história e o que significava o monumento, que está abandonado e pichado.

É esse o resultado dessas construções. Destroem os espaços públicos, acabando com o esporte, a cultura e a história das cidades.

A princípio é isso, apenas pesquisas de programas de televisão.

No entanto, se fizemos uma leitura mais atenta, iremos perceber que essas construções vêm apagando as memórias históricas em várias partes do mundo.

Em Cataguases, por exemplo, vem sendo realizadas obras sobre os espaços públicos. Recentemente uma ampliação de um Hotel, depois de utilizar-se de um terreno onde antes existia um prédio histórico, interferiu na calçada, um espaço público, que ganhou grade e uma rampa. Outra calçada, a de um Banco, por pouco também não foi agredida.

Essas agressões aos espaços públicos e aos nossos patrimônios poderiam avançar se tivesse sido sucedida a tentativa do vereador Eduardo Schelb de emplacar o seu Projeto 01/2009, d que dispunha sobre diversas mudanças no plano diretor da cidade, todas na área de proteção cultural da cidade.

Assim como a pesquisa do Fantástico, essas construções em nossa cidade, também foram aprovadas pela maioria. As justificativas são às mesmas: geração de empregos, modernidade e visão reducionista da relação tempo x civilização. Mas, ao contrário do que se tem apregoado, continuamos com os velhos problemas: desemprego, má distribuição de renda e miséria campeando.

Com isso, vamos nos transformando em reféns de um sistema degradante, que com suas novas construções, destrói a memória , subjuga a cultura e a história do povo. Não tenho dúvidas de que o resultado dessas mentalidades dominantes e rasteiras é o cultivo generalizado do “Creu” e do Crack, do “reboleichon”, porque você não vale nada mais eu gosto de você...

A solução para minorar nossos problemas culturais passa pela educação de qualidade e libertadora. Uma educação que ensine o respeito ao espaço público que é de todos, ao patrimônio histórico, à cultura e à história do povo.

3 comentários:

Vanderlei Pequeno disse...

Carteirinho, seu blog está cada vez melhor e trazendo assunto de interesse de todos. Muito oportuno o texto, continue assm,nosso futuro vereador!! Pequeno

Jonas disse...

Pequeno.
Futuro vereador,vc decididamente não quer o bem da cidade.

Zé Antonio Pereira disse...

Carteirinho, belo trabalho. A cidade vem esboroando sobre as vistas complacentes de todos. Diariamente árvores são arrancadas para entrada de garagens de prédios em obras. Projetos feitos sem o mínimo de respeito ao que é público.