sábado, 9 de outubro de 2010

ENSAIO GERAL


O que me estimula a escrever essa matéria é o processo eleitoral encerrado no último domingo, dia 03 de outubro. Reconheço e admiro a coragem, a ousadia dos dez concidadãos que disponibilizaram seus nomes, na disputa que já se prenunciava hostil, por uma cadeira legislativa. Conheço a maioria deles e os reputo homens éticos, que sabem que a Política é o caminho seguro na conquista de melhores dias para todos. No entanto, a imposição do poder econômico – “A força da Grana “- e a politicalha já se prenunciavam no cenário, ainda no período pré-eleitoral.

A despolitização e a (in) consequente avalanche de recursos financeiros tomaram conta das campanhas. Não houve debate acerca dos interesses públicos; não se realizou um só comício; não fomos convidados à sensata pausa para meditação sobre propostas políticas; fomos encarados como crianças, estimuladas a decorar e repetir os jingles dos candidatos, sob o ataque cerrado das irradiações da publicidade ambulante. Discussão política, zero!

Sabe-se também que, no setor público municipal, o horário de expediente foi eivado de reuniões e as pautas anunciadas foram sistematicamente atravessadas pelo assunto Destino do voto de cada trabalhador presente nos encontros. Estabeleceu-se no ambiente de trabalho um clima de opressão, bem ao gosto dos velhos coronéis que, acreditávamos, já haviam sido extirpados de nossa cena política. Os servidores, convocados ao “debate”, premidos pela vontade do patrão e sem alternativas neste deserto de empregos chamado Cataguases, se viram subjugados, obrigados a abdicar da vontade política, a confiar o voto em um candidato alienígena, que desconheciam, jamais haviam visto.

E o resultado das eleições proporcionais refletiu o atraso da nossa política municipal, gestada pelo PSDB, que alardeia a mudança no discurso que proclama, mas repete a prática abjeta dos velhos currais eleitorais dos anos 1950.

Não contavam os “donos da voz” de nossa gente com o surgimento de uma candidatura estranha aos seus interesses. Nem esperavam que ela viesse lastreada na propaganda de serviços públicos terceirizados, prestados a fragilizados por uma doença que muito nos preocupa, pela sua reincidência em nosso município. Nosso combalido setor de saúde não tem dado respostas à excessiva demanda oncológica. Por isso, essa candidatura milionária ocupou a campanha com a distribuição de mídias gravadas e uma luxuosíssima revista. Nas “Conversas de Bocas” surgiu também a furtiva e incabível notícia de que um hospital da cidade mudaria de titularidade. Assim, o antigo discurso beneficente transformou em epifania, o que deveria ser refletido à luz da razão: a Política. E o candidato levou de eito para a sua sacola mais da metade dos votos válidos da cidade. Ficou valendo aqui a máxima dos oportunistas: Estado bom é Estado ausente.

Mas, no geral, o povo não se curvou e o recado das urnas está cravado na história: Dilma venceu fácil e bonito, recebendo o voto de confiança de quase 60% dos cataguasenses. Na eleição majoritária estadual, nossos eleitores também não vacilaram: Hélio Costa, representando, neste momento, a resistência ao neoliberalismo tucano em nossa cidade, levou 20.034 votos, um percentual de 55,33% dos votos válidos. Do outro lado, Anastasia, o homem do choque de gestão, afilhado e protegido do ex-governador Aécio Neves, arauto da idéia de que a Política deve se submeter à economia e às planilhas, ficou com apenas 15.439 votos (42,64%). Como se pode concluir, Cataguases não desejava nem mesmo um segundo turno nesse pleito.

Reputo que a divulgação desses dados possa subsidiar futuros estudos históricos no município. O tempo e o possível predomínio da razão no terreno árido da política darão respostas contundentes à série de absurdos ocorridos no processo eleitoral.
E não há dúvida: o ensaio geral das eleições de 03 de outubro em Cataguases precedeu o comovente espetáculo a ser exibido em 2012. Preparemo-nos, pois.

Vanderlei Pequeno

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