segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Uma semana para esquecer


Sou funcionário dos Correios desde 2004, no cargo de carteiro e já passei por algumas unidades, como no Rio de Janeiro; agora faço parte do Centro de Distribuição de Cataguases ( CDD Cataguases), cidade onde moro.Durante esse tempo de correios, já passei por muitas dificuldades, principalmente quando trabalhava no Rio de Janeiro, onde entregava carta na favela. Mas nada se compara ao que passei nessa última semana.

Comos todos sabem, fim de ano, aumento o serviço nos Correios, devido às festas de fim de ano - afinal de conta é a época de lembrar das pessoas que passaram mais um ano junto, alguns longe e outros perto. Essa é a época em que os trabalhadores têm um dinheiro extra, o décimo terceiro, e gastam um pouco mais. E somos nós carteiros responsáveis pelas entregas das lembranças, dos cartões, encomendas e também muitas contas.

E se já não bastasse o excesso de serviço, tem também a chuva, que nessa época é frequente. E, na pior semana da minha vida, ela já começou no primeiro dia, segunda-feira... a semana começou mal.

Dia 15 de Dezembro, segunda-feira, o dia todo de chuva, nós carteiros tentamos realizar nosso serviço, alguns conseguem na garra entregar tudo, outros infelizmente voltam com alguma coisa.

Dia 16 , terça-feira, novamente o dia chuvoso, e novamente muito serviço, e alguns com o restante da correspondência do dia anterior, e novamente vamos para rua na raça, lutando contra a natureza, tentando realizar nosso serviço. E novamente alguns conseguem e outros não - para falar a verdade é quase impossível entregar nessas condições.

Eu pensando que estava ruim, sem saber que o pior ainda estava por vir.










Uns dos acessos do meu bairro para o centro, nessa imagem não dá para ver, mas aqui tem uma ponte.


Dia 17 , quarta-feira, acordo normal, tempo continua chuvoso, ao ir para o trabalho encontro vários voltando, e um zum...zum..zum. O rio está cheio , a cidade está inundada, é enchente. Não conseguir nem chegar no trabalho, fiquei ilhado no meu bairro, onde para se passar para o centro tinha que atravessar ponte, e tinha 4 pontes para que eu pudesse atravessar, mas todas cobertas de água, nem viamos mais a ponte, como mostra a foto acima, não sabia o que era rua e o que era rio. Ligo para meu chefe para comunicá-lo, e logo percebo que não sou o único a não conseguir, tem mais colegas que também ficaram ilhados. Os que conseguiram chegar, se viram preso dentro dos Correios, sem poder até mesmo voltar para casa, alguns moravam em outras cidades, e tiveram que ficar alojados nos correios, e depois foram para um hotel do lado dos Correios, totalmente ilhados, presos dentro dos quartos.









Em vários pontos da cidade somente barco passavam.

Dia 18 , quinta-feira, novamente acordo as 6:30 da manhã, sigo o ritual de todos os dias, tomo café e vou para o trabalho, e novamente não consigo chegar ao serviço, e dessa vez não so eu, mas quase todos os funcionários, e o caminhão que traz a carga também não conseguiu chegar, já é o segundo dia parado.
A chuva parece dar uma trégua, abaixa um pouco, e alguns conseguem voltar para casa, e fica a dúvida no ar, e amanhã como será? Volto para casa e acompanho pelo rádio, e só o que se falava em todos os cantos é que foi a pior enchente de todos os tempos, superando a de 1979, onde a água chegou aos 9 metros, essa dizem que chegou mais de 10 metros.













Foto tirada em frente aos Correios, que graças a Deus não entrou água, mais faltou pouco.

Dia 19, sexta-feira, acordei mais feliz, pois sabia que a chuva tinha acabado, e que a água tinha descido um pouco, e que dava para chegar no trabalho, mas alguns pontos da cidade continuavam inundados. No caminho vou vendo o estrago que á natureza fez, e isso me faz lembrar uma frase : A natureza não manda recardo, ela se vinga.
E ao lembrar dessa frase, vejo que somos nós mesmo o grande responsáveis por esse desastre, por simplesmente não saber preservar a natureza, jogando lixo em qualquer lugar e outros atos contra ela, mas nessa hora não existe culpados, e todos devem se unir para ajudar quem perdeu alguma coisa, como alguns perderam tudo.

Chego no trabalho e escuto os fatos interpretados por cada um que passou, que cada um viu ou ficou sabendo, e depois de 2 dias parados chegou a hora de trabalhar, e tem serviço para o fim de semana todo. Chega logo dois caminhões lotados de serviço, e me lembrou a época em que entrei de greve no Rio de Janeiro, mas um aqui foi bem pior, devido que na época da greve quase ninguém aderiu ao movimento, muitos trabalharam e no final dela não tinha muito serviço, dessa vez todos ficaram sem trabalhar.

A ordem da chefia local é para dar preferência para os objetos sedex, registrados e encomendas, e que em dia normal saímos numa faixa de 20 a 40 objetos diários, nesse dia eu sai com 98, e teve colegas que sairam com mais de 200.
A carga de objetos simples cartas, faturas, cobranças, extratos e etc.. ficará para o dia seguinte. Para adiantar o serviço fizemos hora extra, deixamos quase tudo pronto para o outro dia, tem colegas que chegou a sair quase as 21:00 horas, nunca na história dos Correios de Cataguases havia ocorrido isso.














Depois que a água baixou fica a mostra o estrago que foi feito.

Dia 20 , Sábado, logo pela manhã vem na cabeça, o dia vai ser longo, e começamos as 8:00 com quase tudo pronto recebemos o caminhão, que vem todos os dias, exceto aos domingos, nele vamos mexer somente nos Sedex, graças a Deus, isso faz parte do serviço, pois aos sábados somente entregamos Sedex e telegramas.

E vamos para rua depois de 3 dias sem entragar cartas, e vemos o que sobrou da cidade, a parte que faço muito pouca foi afetada, mas os que foram não sobrou quase nada, e saio com a bolsa pesando 10kg, o máximo permitido, e mando para um depósito auxiliar, o famoso DA mais de 10 kg de carta, ficando ainda nos correios 13 kg, somando tudo dá mais de 30 kg de carta, lembrando que cada uma pesa em torno de 10 a 50 gramas, foi o dia que mais entreguei carta na minha vida.

Como tinha muita carta, a ordem era dividir o distrito no meio, afinal de conta trabalharíamos também no domingo, muitos de nós nunca haviamos trabalhado no domingo. Correndo de um lado para o outro, subindo e descendo morros consigo acabar a parte que tinha levado antes do tempo previsto, e como tinha até 14:00 para entregar, volto nos correios e pego o que ficou, e com muita garra consigo num dia só acabar com a minha parte.


Dia 21, domingo, meu primeiro domingo nos Correios trabalhando. Como tinha feito tudo no dia anterior, venho trabalhar para ajudar aqueles que tinham feito a metade, eu mesmo não sei como conseguir acabar tudo no mesmo dia, até hoje me pergunto, e novamente chegou as 8:00 horas, as 9:00 horas já estou na rua, e hoje não tem muito serviço, e antes de dar 12:00 já tinha acabado, agora volto para os Correios para carimbar e devolver as cartas que somando os dias já davam 5 dias, lembrando a média de 8 a 20 cartas diárias, não cheguei a somar, mas dava mais de 40 cartas concerteza.
Depois de tudo carimbado, tudo acabado, pensei que poderia ir para casa e descansar tranquilo, que nada, tinha ainda o caminhão de ontem que havia ficado tudo parado, e a ordem foi para adiantar o possível para o dia seguinte, e fiquei até as 14:00 horas, o máximo permitido nesse dia.
Em fim posso ir para casa, agora mais tranquilo, pois sei que a chuva acabou e que quase tudo voltou ao normal, e que estava com missão cumprida, e em apenas 2 dias conseguimos entregar todas as cartas, provando para todos o porque somos o melhor centro de distribuição de Minas Gerais, essa equipe novamente mostrou seu talento, e com o famoso trabalho em equipe superamos mais esse desafio.


Por isso tudo que acabei de contar, para mim a pior semana de trabalho, não por causa do serviço acumulado, pelas condições de entrega, desde o primeiro dia da semana com chuva, quase sem condições de entregas, e depois que a chuva passou e que vimos o resultado, lama para tudo que é lado, ruas sem condições de entregar, casas arruinadas, muitas com água ainda, algumas não resistiram e caíram, muitos desabrigados.


Imagens que nunca vou esquecer, a pior semana da minha vida, e não somente por causa do trabalho, mas por tudo que passei e vi, e agora nós resta preservar a natureza e torcer para que ela nunca mais resolva se vingar novamente.

Um comentário:

Anônimo disse...

Gostei,a unica mudança pra valer foi o prefeito mudar do pouso alegre para o centro da cidade; Outra coisa que vale lembrar ele prometeu que as diretoras de escolas seriam votadas pelos pais dos alunos,voltou atraz,ele proprio esta nomeando.o jornal cataguases não coloca mais artigos sociais como casamentos,notas de falecimentos,etc. Vamos ter em breve um TITANIC resurgindo em cataguases.Opovo votou agora AGUENTA.